Você provavelmente já ouviu falar da metodologia de ensino construtivista. Apesar de existir há quase um século, o modelo pedagógico ainda gera muitas dúvidas.
Abaixo vamos explicar o que é o construtivismo, como funciona e como seus conceitos revolucionaram o processo de ensino-aprendizagem nas escolas.
Método Construtivista: o que é e como surgiu?
Ao contrário do que muitos pensam, o construtivismo não é uma metodologia de ensino, mas sim uma teoria criada pelo biólogo e psicólogo suíço Jean Piaget, durante o século XX.
Interessado em compreender a origem do conhecimento, o cientista dedicou seus estudos à observação do processo de aprendizado do ser humano, em especial das crianças.
Ao analisar as crianças desde o nascimento até à adolescência, Piaget concluiu que o aprendizado é um processo dinâmico. A partir de um papel ativo, por meio da pesquisa e da descoberta, as crianças constroem o próprio conhecimento – daí a palavra construtivismo.
Apesar de não ser considerada um método de ensino a Teoria Construtivista elaborada pelo psicólogo teve grande impacto no meio educacional, transformando a prática de ensino-aprendizagem em diversas escolas ao redor do mundo.
No Brasil, o construtivismo passou a ser implementado nas salas de aula a partir da década de 80, trazendo mudanças principalmente na alfabetização infantil.
O aprendizado segundo o construtivismo de Piaget
Ao analisar e investigar como as crianças constroem o conhecimento, Piaget concluiu que o pensamento infantil passa por quatro estágios, desde o nascimento até o início da adolescência – fase em que a criança atinge sua capacidade plena de raciocínio. São eles:
Sensório motor (0 a 2 anos): o período que antecede à linguagem, é caracterizado pelo desenvolvimento da percepção de si próprio e dos objetos ao seu redor. Nessa primeira etapa as crianças aprendem a controlar seus reflexos básicos (sucção, agarrar, puxar, engatinhar, andar), gerando ações prazerosas ou vantajosas.
Pré-operatório (2 a 7 anos): com o aparecimento da linguagem, a criança torna-se capaz de narrar fatos, representar situações já vividas ou antecipar ações futuras, por meio da representação verbal e de símbolos. Nesta fase ela passa a interagir socialmente, mas ainda não é moralmente apta a se colocar no lugar do outro.
Operações concretas (7 a 11 anos): nesse estágio, o pensamento deixa de ser dominado pelas percepções e a criança passa a resolver problemas que são concretos em suas experiências, através da lógica. A noção de reversibilidade possibilita que a criança domine conceitos de tempo e número.
Operações formais (a partir dos 11 anos): do ponto de vista cognitivo, essa fase representa o início da idade adulta, marcada pelo domínio do pensamento lógico e dedutivo. A criança torna-se capaz de relacionar conceitos abstratos e elaborar hipóteses. No estágio de operações formais a criança passa a desenvolver o senso de autonomia, adquirindo habilidades de cooperação e reciprocidade.
Transferindo essas ideias para o processo educacional, o construtivismo acredita que todas essas etapas devem ser percorridas de forma linear.
Como funciona o método de ensino construtivista?
Diferente da metodologia de ensino tradicional, a construtivista propõe uma nova visão: o aluno como foco no processo de aprendizagem. Nesta dinâmica o aluno passa de um estado passivo (receber e assimilar informações) e assume um papel ativo no processo de aprendizado.
O educador, por sua vez, fornece as condições e ferramentas para que o estudante adquira autonomia e construa o seu conhecimento, sempre respeitando os seus estágios de desenvolvimento.
Essa construção acontece através do contato do estudante com o mundo ao seu redor – seja com o meio ou com as pessoas. Sendo assim, ele é constantemente estimulado a superar desafios, resolver problemas, elaborar hipóteses e perguntas, desenvolvendo raciocínio crítico e lógico.
Normalmente as atividades realizadas em sala de aula são interdisciplinares, incentivando a conexão entre diferentes áreas do saber e aprofundando o conhecimento.
Trabalhos em grupo também são frequentemente realizados nas escolas construtivistas, pois acredita-se que a interação entre pares estimula a criança a desenvolver o raciocínio lógico e o pensamento crítico, além de trabalhar habilidades como reciprocidade e cooperação.
Quais são as principais características da escola construtivista?
Dentre as principais características do construtivismo, estão:
Relação professor-aluno mais horizontal
Essa é uma das principais características na metodologia de ensino construtivista. Nela, o papel do professor vai além de transmitir informações, tendo, como principal função, mediar e orientar a criança no processo de construção do conhecimento, respeitando a sua bagagem de conhecimento e fases de desenvolvimento. Essa dinâmica torna a relação entre educador e aluno mais horizontal.
O erro é visto como oportunidade
No construtivismo, o erro não é visto como algo negativo, e sim como algo natural no processo de aprendizado e desenvolvimento cognitivo e socioemocional da criança. Ao errar a criança aprende a questionar problemas, revisar estratégias e encontrar soluções para atingir novos resultados. Sendo assim, o aprendizado acontece através da prática.
Salas em círculo
Geralmente as carteiras são organizadas em formato de círculo, possibilitando uma maior interação entre os alunos. Além disso, as salas de aula possuem uma quantidade menor de estudantes, permitindo que o professor acompanhe de perto o desenvolvimento de cada um.
Avaliação contínua do conhecimento
Apesar de algumas escolas construtivistas realizarem provas, o desenvolvimento do estudante é avaliado de forma contínua por meio das atividades propostas em sala de aula e da observação do professor. Visto que o educador acompanha o aprendizado do aluno frequentemente, a aplicação de testes não se faz necessária, como acontece na metodologia tradicional de ensino.
A metodologia de ensino construtivista tem, como principal objetivo, incentivar o desenvolvimento do senso crítico, do pensamento lógico e da autonomia do indivíduo.
Segundo Piaget, o conhecimento não nasce no sujeito, nem no objeto, mas sim na “interação entre sujeito-objeto”, sendo assim, a aprendizagem deve ocorrer em todos os ambientes que a criança frequenta, sendo intermediado e incentivado por educadores e familiares.