“É no brincar e talvez apenas no brincar que a criança ou o adulto fluem sua liberdade de criação e podem utilizar sua personalidade integral e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu” (D. W. Winnicott. O Brincar e a Realidade. 1975).
O que é o brincar livre? Resumidamente podemos dizer que a criança está brincando livremente quando desenvolve uma atividade livre de direcionamentos, regras, imposições, brinquedos “prontos” e objetivos de aprendizagem. Não existe um padrão para o brincar livre, é preciso deixar a criança livre para explorar sua criatividade, no seu tempo e do seu jeito, desenvolvendo assim sua própria brincadeira.
Mas a criança não se diverte e usa a criatividade em todas as brincadeiras? Não em todas… Algo que propomos como brincadeira pode não ser o que ou como ela gostaria e para ela se tornará uma atividade e não diversão. A menor interferência permite que a criança se expanda, explore as suas potencialidades e se desenvolva amplamente. Sem os limites preexistentes ou impostos ela conseguirá “sair fora da caixa”.
E qual a importância disso? Claro que os estímulos específicos são essenciais para o desenvolvimento físico e cognitivo, porém no ócio criativo e, por que não nos momentos de tédio, ela irá organizar seus pensamentos, se conhecer, entender seus limites, investigar seus interesses, capacidades e emoções, para assim estimular o uso de sua imaginação e começar a brincar. Ela só precisa de espaço, tempo e liberdade para expressar as suas vontades, soltar a imaginação e criar.
Atualmente vivemos em um mundo onde as crianças recebem cada vez mais estímulos, seja pela televisão, celulares, na escola, em casa e com brinquedos “prontos” e acabamos esquecendo de proporcionar momentos para as crianças brincarem livremente. Vejam algumas sugestões de como introduzir o brincar livre no dia-a-dia:
- Deixe o ambiente livre, diminua a quantidade de brinquedos no local ou vão até um espaço aberto com menos limites, como um parque ou uma praça e não levem brinquedos.
- Ofereça brinquedos não estruturados, ou seja, toalhas, potes de plástico, tampinhas de garrafa, colheres de pau, galhos e folhas, etc. Oferecer que não é óbvio exige que ela use sua imaginação.
- Deem tempo para a criança observar o espaço, os objetos e exercitar a criatividade, é como se ela precisasse se desconectar do mundo em que vivemos antes de entrar no mundo da fantasia.
- Permita que a criança se solte, evite sugestões, interferências ou dicas… observe como ela brinca e as situações que cria. Brincar livre não significa que a criança tenha que brincar sozinha, ela pode interagir com outras crianças e até mesmo com adultos, mas quem guia a brincadeira é ela, os pais entram seguindo as orientações, explorando o mundo que ela criou.
Dependendo da personalidade da criança ou hábitos pode não ser automático esse brincar livre, elas podem se sentir perdidas e perguntarem, “Mas o que eu faço agora?” ou “Do que eu vou brincar?”, nesse momento inverta o questionamento e diga “O que você acha que poderia fazer agora?” ou “O que gostaria de fazer com esses objetos?”. E assim, com mais disponibilidade de tempo para esses momentos e maior frequência de momentos assim, ela vai se soltando e se permitindo criar.
E nós como educadores, entendendo a importância desse brincar não dirigido, também reservamos momentos aqui na escola para eles desenvolverem sua criatividade. Por exemplo, ao deixarmos as crianças livres no pátio sem oferecer brinquedos já é uma forma de incentivo a utilizarem sua imaginação e eles rapidamente se organizam para uma brincadeira em grupo, outros caçam formiguinhas, joaninhas, recolhem folhas do chão para brincarem de cozinhar e por aí vai!
Temos que permitir que nossas crianças sejam crianças e sairmos da nossa posição de adultos, nos juntarmos a eles e deixar a imaginação tomar conta, rolar na grama, recolher flores pelo caminho, fazer comidinhas de faz de conta, imaginar desenhos nas nuvens, explorar a natureza… tudo isso irá estreitar os laços afetivos e trazer momentos inesquecíveis para todos!